Em um período de turbulência como este que estamos atravessando, tentar criar nosso próprio futuro é melhor que tentar prever o desfecho do cruzamento de todas essas forças globais. No entanto, ao tentarmos criar nosso próprio futuro, precisamos garantir um acompanhamento atento e encarar as novas realidades. (MACIARIELLO, JOSEPH A., 2016)

 

Inspirado e motivado a contribuir neste cenário de crise, e também tomado por toda a produção de conteúdo nas últimas semanas, resolvi revisitar um pouco as minhas anotações e percepções sobre liderança e gestão. Baseado em algumas literaturas da ciência da administração e experiências que já tive como consultor e engenheiro, associado a este contexto que estamos vivenciando, espero, caro leitor, que este texto possa lhe ajudar de algum modo.

 

O que vimos naquele período tumultuado foi o tipo de comprometimento e desempenho excepcional que qualquer organização é capaz de ter desde que seus líderes tratem as pessoas com respeito e a união em torno de um propósito comum. (COCKEREKK, LEE, 2009.)

 

Ambos os papéis, gestor e líder, tem a sua devida importância em meio a este “Cisne Negro”, sobre o qual, a título de conhecimento, de acordo com Taleb (2007), “um Cisne Negro é um evento com três características altamente improváveis: é imprevisível, ocasiona resultados impactantes e, após sua ocorrência, inventamos um meio de torná-lo menos aleatório e mais explicável.”

Normalmente, estes papéis se confundem, embora distintos. Ao gestor, cabe preocupar-se com a ordem organizacional, assegurando que todas as programações sejam cumpridas, conforme o planejado. Ao líder, cabe a missão de promover mudanças que permitam a empresa adaptar-se ao novo cenário, criando um ambiente inspirador aos atores do processo. Ambos devem ter duas coisas em comum: entregar resultado e serem dignos de confiança.

Um bom gestor mantém a ordem. Um grande gestor encontra com um bom trabalho uma ordem no caos. Já dizia Lee Cockerell (2009), Ex-vice-presidente executivo do Walt Disney World® Resort, em seu livro Criando Magia – 10 estratégias de liderança desenvolvidas ao longo de uma vida na Disney, “Não é com mágica que se faz um bom trabalho é com bom trabalho que se faz mágica.”

Um bom líder é humilde o suficiente para admitir que não sabe algo, enquanto um grande líder está sempre em busca de novas informações. E ainda, de acordo com Cockerell, “A ótima liderança conduz a excelência dos funcionários”.

 

À mercê do inesperado,

 

O gestor precisa olhar a tarefa que tem diante de si e perguntar: “O que devo fazer para estar preparado para o perigo, para as oportunidades e, acima de tudo, para a mudança?”. Em primeiro lugar, trata-se do momento para garantir que sua organização é ágil e pode mover-se rapidamente. Portanto, é um momento em que se abandona sistematicamente o lastro de produtos e atividades sem sentido — e se assegura que as tarefas realmente importantes têm apoio apropriado. Em segundo lugar, o gestor terá que trabalhar em cima do mais caro dos recursos — o tempo […]. As demandas que pesam sobre o gestor, portanto, vão aumentar constantemente. Mas também vão aumentar as oportunidades. Se essas demandas serão ameaças ou oportunidades, vai depender de sua competência. Fará bem quem trabalhar a própria competência como gestor. (MACIARIELLO, JOSEPH A., 2016)

 

Neste cenário, gestores têm duas tarefas específicas. A primeira é a recriação do formato de trabalho, que seja realista e aplicável neste instante, que seja maior que a soma de suas partes, ou seja, que gere algo maior que a soma dos recursos empregados. A segunda tarefa específica do gestor será o de equilibrar, em todos os atos e decisões, as exigências do futuro imediato. Note, que tanto as oportunidades do dia-a-dia quanto uma crise provocada por um “Cisne Negro”, não obedecem ao seu calendário. Seu papel é estar preparado para reconhecer e agir prontamente quando estas se apresentarem.

Quanto aos líderes, procure à sua maneira, o jeito que dará certo para você e não tente ser outra pessoa. Contudo, não se esqueça, esteja embasado na inteligência e na coerência para ter uma liderança eficaz mediante ao “Cisne Negro” e, acima de tudo, não perca a integridade. Acontece que, aqueles que possuem um pouco de integridade sobrevivem e, nos períodos de depressão, prosperam. Em seu livro, Maciariello (2016) atenta sob a indicação de Peter Drucker que, “A liderança se testa na adversidade, disse Xenofonte 2500 anos atrás na Ciropédia […]. Empenhe-se em ler a Ciropédia, de Xenofonte, para tomar aulas de liderança com Ciro, o Grande.”

 

Para o líder,

 

As atitudes e decisões de ontem, por mais corajosas ou sensatas que tenham sido, inevitavelmente se transformam nos problemas, nas crises e nas burrices de hoje. Apesar disso, o papel específico do executivo — quer trabalhe no governo, numa empresa ou em qualquer outra instituição — é comprometer com o futuro os recursos de hoje. (MACIARIELLO, JOSEPH A., 2016)

Em um vídeo do filósofo brasileiro Mário Sergio Cortella que recebi recentemente em rede social, coletei algumas mensagens sobre liderança que cito neste parágrafo. “O Verdadeiro Líder Não Manda Recado”, é importante ter coragem para enfrentar as adversidades, e “Coragem não é ausência de medo”. “O Líder na hora da crise põe a cara, o responsável na hora da encrenca se mostra, não manda recado.” Junto com a coragem tem outra virtude essencial em momentos de turbulência, a paciência, mas atenção “Paciência não é lerdeza, ser lerdo é sinal de incompetência, ser paciente é sinal de inteligência”.

Realmente é um momento de crise, de adversidades, de aleatoriedades, de incertezas, e de muito desapego. E sobre desapego, “Não há nada mais caro e complicado — assim como não há nada mais inútil — que tentar evitar que um cadáver comece a feder.” E ainda, conforme Marciarello (2016), “Sem um desapego sistemático e pensado, a organização é superada pelos eventos.”

Busque para você, líder gestor, quais exemplos de “bons resultados” servirão para a sua empresa encarando este “Cisne Negro”. Procure encontrá-los. O líder eficiente buscará parceiros fortes, e os incentiva, os desafia, e acima de tudo, orgulha-se deles. Líderes eficientes delegam, mas não aquilo que dará exemplo (ressalto a posição do Cortella e associo ao pensamento de Peter Drucker). Isso eles fazem. “Não é o carisma que importa. O que importa é [se] o líder conduz na direção certa ou errada” (Peter Drucker).

 

Drucker sem dúvida compreendia que há uma distinção entre liderança e gestão: “Liderança é quando se eleva a visão das pessoas a um ponto mais alto, quando se eleva o desempenho de uma pessoa a um padrão mais alto, quando se constrói uma personalidade para além de suas limitações normais”. (MACIARIELLO, JOSEPH A., 2016)

 

Então, apresento para aqueles que ainda não conhecem, e para aqueles que já conhecem convido a revisitar, os “Princípios da Liderança” de Peter Ferdinand Drucker, considerado como o pai da administração moderna, o qual inspirou por mais de 60 anos, diversos administradores por todo o mundo, e pode também inspirá-los de forma adaptada para o agora:

 

  1. O líder tem a visão e enxerga o que pode ser feito, as oportunidades para a organização.
  2. Definir a missão é uma das tarefas mais difíceis numa organização. A resposta mais óbvia costuma estar errada. Uma tendência comum é formular uma frase que parece boa, mas não é operacional. Ela se torna um simples lema.
  3. O líder encaixa os recursos conforme as necessidades, na medida certa, como um alfaiate […] cortando um terno.
  4. O líder é um catalisador, que faz as coisas certas acontecerem. As “coisas certas” são determinadas pelo casamento entre os recursos internos e as oportunidades externas. Quando as oportunidades não existem, a organização está desperdiçando recursos. E quando não existe capacidade nem competência, o resultado é tempo perdido.
  5. O líder assume a responsabilidade, absorve de bom grado as críticas e aceita a solidão do comando.
  6. A tomada de decisões é central para o papel do líder. A tomada de decisões exige coragem, tanto quanto inteligência. Nem todos têm estofo para tomar decisões difíceis. Mas todos podem aprender a ser eficientes em seus postos.
  7. Popularidade não é critério para liderança. Tampouco a personalidade carismática.
  8. (8) O líder deve, às vezes, criar controvérsias, para evitar que a complacência e a mentalidade burocrática tomem conta da organização.
  9. Os [CEOs são] responsáveis por tornar eficientes seus comitês de direção.

 

Entendo que são muitos elementos que se correlacionam entre estes dois papéis, líder e gestor, e que para enfrentar este “Cisne Negro”, o líder gestor deve atentar para muitos deles, como por exemplo, ações junto a colaboradores e ações junto a fornecedores e credores; obrigações tributárias, obrigações trabalhistas e financeiras; ações estratégicas ao mercado; entre outras. Não é e não será uma tarefa fácil, e sim, um desafio único, que exigirá muita dedicação, esforço e trabalho duro.

Em um período de rápidas mudanças estruturais, os únicos a sobreviver serão os líderes transformadores. Um líder transformador vê a transformação como uma oportunidade. Um líder transformador busca a mudança, sabe como distinguir as boas mudanças e como torná-las eficientes, tanto fora quanto dentro da organização. Construir o futuro é altamente arriscado. Porém, é menos arriscado tentar que não tentar. Uma proporção razoável dos que tentarão certamente não conseguirão. Mas os que não tentarem estão certos de não conseguir. […] Procure fontes de oportunidade para inovação em sua organização. Procure o “futuro que já chegou” e transforme-o em oportunidade para inovação. Se você fizer isso, pode se tornar um líder transformador e tornar irrelevante a concorrência, tanto para você quanto para sua organização. (MACIARIELLO, JOSEPH A., 2016)

Espero, amigo leitor, que este texto lhe traga mais do que reflexão, mas também motivação e entusiasmo, para agir com coragem e paciência, para ser líder. Finalizo com uma frase que gostei muito do Cockrell, “Em tempos de mudanças drásticas são os aprendizes que herdarão o futuro.”

 

Este artigo foi escrito por Edson Fernando Graiczyk, consultor da Otimiza Consultoria.

 

Fontes:

COCKRELL, LEE. Criando Magia – 10 estratégias de liderança desenvolvidas ao longo de uma vida na Disney, de 2009.

MACIARIELLO, JOSEPH A. Um ano com Peter Drucker: 52 semanas de coaching para tornar um líder eficiente, de 2016.

TALEB, NASSIM N. A Lógica do Cisne Negro, de 2007.