O contexto que vivemos é único, sem precedentes para a sociedade e economia, pois estamos em um estado de exceção. A legítima intervenção do estado na atividade econômica para interromper a disseminação do vírus provocará, como efeito colateral, o início de um ciclo negativo na economia que se estenderá por meses, levando a um período de escassez.
Por isso não se pode relativizar o impacto dos acontecimentos nem procrastinar as decisões que precisam ser tomadas agora, porque nossa visão é que a situação econômica atual irá evoluir para uma desalavancagem, o que significa um período de baixa atividade econômica já em um cenário deteriorado.
Entendemos que o momento é duro e deve ser encarado de frente, com coragem, principalmente pelos pequenos empresários, mais afetados pela situação atual. Portanto as ações realizadas durante esse período de exceção devem focar em adaptar o negócio, minimizando o impacto econômico e mitigando as consequências de ficar parado diante do desafio imposto.
Isso exige aceitar a realidade como ela é, e lidar com ela. Exige arriscar a própria pele, adotando uma postura de sobrevivência. As medidas adotadas nesse momento devem ser guiadas pela racionalidade, pela prática do desapego e pelo senso de urgência.
Ser radicalmente transparente com colaboradores, fornecedores, clientes e parceiros de negócio na definição do curso das ações reforça o compromisso com a continuidade da empresa e colabora para diminuição dos riscos, pois o ciclo negativo irá passar, mas a reputação da empresa no mercado, suas práticas operacionais, além dos aspectos financeiros e legais não podem ser comprometidos.
Os acontecimentos atuais se encaixam na definição do que o matemático libanês Nassim Nicholas Taleb descreveu como um cisne negro. Um evento de alto impacto, imprevisível e possível de explicar somente depois que acontece. Segundo o autor a analogia com o cisne negro é devido ao fato de que antes da descoberta na Austrália de um tipo de cisne negro, acreditava-se que todos os cisnes eram da cor branca, afinal, ninguém nunca tinha visto um cisne da cor preta. No entanto, eles existiam.
Ainda segundo Taleb, a compreensão do impacto desses eventos aleatórios em nossa vida sugere que quando nos encontramos no Extremistão, lugar onde os cisne negros acontecem, não podemos nos basear no passado para tomar as decisões de agora. Isso porque nossa compreensão da realidade diante desses acontecimentos incomuns encontra-se distorcida, o que prejudica nossa capacidade de agir.
Para reduzir a distorção devemos focar em aspectos essenciais do negócio, e agir com base em algumas estratégias genéricas, que são as melhores apostas de como encarar esse período de exceção. Essas estratégias visam obter receitas, reduzir custos e aumentar a liquidez, adaptando a empresa ao cenário em que se encontra.
A escolha do tratamento mais adequado deve considerar duas medidas: o nível de atividade e a liquidez atual. O nível de atividade é a expectativa realista de quanto será a perda de receita, enquanto a liquidez atual é o resultado de todos os compromissos a pagar e a receber durante o período do tratamento, que entendemos que deve se estender de 3 a 6 meses.
O resultado dessa equação determinará a dose do remédio que deve ser aplicada ao negócio. De uma forma simples, a dosagem deve ser proporcional a perda de receita projetada para o período do tratamento. Diante disso, as despesas mensais devem reduzir na mesma proporção que a perda de receita. E, não sendo possível reduzir as despesas na mesma proporção, deve-se adotar medidas para complementar o caixa, reestabelecendo o equilíbrio financeiro e a liquidez.
Com a dosagem do remédio calculada e com o período do tratamento definido tem-se o tamanho do desafio que a empresa precisa enfrentar. A partir daí, inicia a construção de ações para viabilizar as estratégias genéricas que irão superar as dificuldades impostas. As decisões tomadas devem ser coerentes com o contexto que vivemos e com o cenário específico de cada negócio, mas devem ter a ambição de satisfazer toda a dosagem do remédio receitada.
É importante que o pequeno empresário compreenda que seu negócio deve sobreviver ao período de escassez com o menor impacto possível, para, após o ciclo negativo, retomar suas atividades de forma plena. Sempre haverá um dia depois de amanhã, portanto as decisões tomadas devem solucionar as dificuldades atuais sem comprometer todo o futuro do negócio.
Esse é o obstáculo que precisa ser superado. Adaptar a empresa frente as circunstâncias atuais, lidando com a incerteza e reduzindo a ilusão da robustez. Isso significa aprender a tornar-se antifrágil, ou seja, mais apto, flexível a ajustado a volatilidade do mercado.
Por tudo isso, nos colocamos a disposição da sociedade com toda nossa energia para apoiá-los a fazer o melhor possível e a sair mais fortes de tudo isso.
Estamos juntos!
Este artigo foi escrito por Francis Soso, consultor da Otimiza Consultoria.