A empresa cresceu, fortaleceu-se economicamente fabricando e distribuindo produtos básicos para todo o território nacional, com pouca tecnologia embarcada, baixa qualidade e pouca exigência tecnológica em seus processos. Foram décadas repetindo atividades, os mesmos produtos, as mesmas embalagens, rótulos e rotinas, com quase nenhuma adaptação, afinal, não eram necessárias. O mercado consumia aquilo que conhecia, ou o que estava disponível. Até a chegada da concorrência internacional. 

A breve narrativa não é novidade. Afinal, foi a partir da abertura de mercado, ocorrida no início da década de 1990, que o Brasil iniciou uma nova era de desafios e oportunidades. Dezenas de segmentos de negócio, principalmente na indústria, despertaram de uma longa noite e encontraram uma manhã totalmente diferente e em um novo tempo. Um bom exemplo é a indústria vinícola nacional. A chegada de produtos importados gerou uma verdadeira revolução no setor e, em pouco tempo, passamos de produtores de vinho comum ou a granel para competidores em igualdade com muitas marcas internacionais. 

A qualidade dos nossos vinhos não só conquistou reconhecimento no paladar de apreciadores e em competições internacionais, como também elevou os padrões da indústria local, forçando todos os participantes a inovar e aprimorar seus processos para manter a relevância no mercado global. Esta transformação não apenas abriu novas oportunidades de exportação, mas também revitalizou a indústria, promovendo uma cultura de excelência e inovação que impulsiona o setor para novos patamares.

O exemplo da indústria vinícola demonstra uma verdade incontestável: a necessidade de adaptação é muitas vezes uma questão de sobrevivência. Na atualidade, todos enfrentamos desafios semelhantes em um ritmo ainda mais acelerado. O ciclo de vida dos produtos encurta-se, a tecnologia avança a passos largos, o perfil do consumidor evolui constantemente, os canais de distribuição e a digitalização passam por revoluções contínuas.

Organizações de todos os tipos e tamanhos, desde as mais conservadoras até as mais inovadoras, precisam equilibrar essas demandas. Empresas inovadoras, impulsionadas pelas exigências do mercado e pela concorrência, necessitam encontrar um ponto de equilíbrio entre a inovação e a resiliência dos seus produtos. Por outro lado, empresas mais tradicionais enfrentam a necessidade urgente de transformação, dado o ritmo frenético das mudanças que impactam diretamente suas operações e estratégias.

Ambos os tipos de organizações — as inovadoras e as conservadoras — devem enfrentar o desafio de se adaptar sem perder a essência de suas operações. Enquanto a inovação pode impulsionar o crescimento e a competitividade, a resiliência dos produtos e processos assegura a estabilidade e a sustentabilidade no mercado. 

O Desafio da Cultura Dual e a Gestão Ambidestra

Diante de um cenário de rápidas transformações, muitas empresas têm enfrentado a necessidade de adotar uma abordagem estratégica que integre a busca por inovação com eficiência operacional consolidada. Um caminho promissor que vem se destacando é a implementação de uma cultura dual, associada ao conceito de gestão ambidestra, que permite às organizações equilibrarem as demandas conflitantes de otimização de desempenho e inovação.

Na busca deste equilíbrio, garantindo competitividade recomendamos

  1. Revisão da Arquitetura Organizacional:

Para viabilizar a implementação de cultura dual e gestão ambidestra, uma revisão da arquitetura organizacional faz-se necessária. Isso envolve a reestruturação das unidades de negócio, a redefinição dos processos internos e a adaptação da estrutura de liderança para suportar tanto a exploração de novas oportunidades quanto a excelência nas operações correntes. Essa revisão permite que a empresa seja flexível o suficiente para inovar, enquanto mantém a eficiência em suas operações principais.

  1. Reestruturação e Investimento em Tecnologia:

A implementação de novas tecnologias cria um ambiente que fomenta a inovação e a exploração de novas oportunidades. Ao adotar uma abordagem ambidestra, as empresas podem equilibrar a manutenção da eficiência operacional com a capacidade de explorar novas possibilidades. Essa integração permite que a empresa não apenas otimize seus processos atuais, mas também se posicione na vanguarda da inovação, garantindo uma base sólida para o crescimento sustentável e adaptação a longo prazo.

  1. Desenvolvimento de Produtos e Controle da Qualidade:

O desafio é desenvolver novos produtos e melhorar a qualidade daqueles já existentes, que geram resultados operacionais e/ou estratégicos. Enquanto as equipes dedicadas à inovação se concentram em explorar novas ideias, tecnologias e tendências de mercado, os funcionários responsáveis pela produção mantém o foco na eficiência e na consistência. Essa distinção estratégica permite que cada área se concentre em suas prioridades específicas, sem comprometer a qualidade ou a eficiência geral.

  1. Desafios e Adaptações:

A cultura dual e a gestão ambidestra não estão isentas de desafios. As empresas podem enfrentar resistência à mudança, dificuldades na integração de novas tecnologias e a necessidade de ajustar processos e estratégias em resposta a um mercado em constante evolução. No entanto, a capacidade de aprender e se adaptar a essas experiências é o que permite às organizações ajustar suas estratégias e continuar crescendo.

  1. Resultados e Perspectivas Futuras:

O resultado para muitas empresas que adotam a cultura dual e a gestão ambidestra é não apenas a manutenção de sua posição no mercado, mas também a sua ascensão como líderes inovadores em seus setores. A combinação de excelência operacional e inovação cria uma base sólida para o crescimento contínuo e a expansão em novos mercados. Com uma infraestrutura tecnológica robusta e um portfólio diversificado de produtos de alta qualidade, essas empresas estão bem posicionadas para enfrentar futuros desafios e explorar novas oportunidades.

Uma ferramenta simples, mas ainda relevante, é a Matriz BCG. Embora não seja a ferramenta mais moderna para análise estratégica, ela ainda possui valor, especialmente quando usada como parte de um conjunto mais amplo de ferramentas. Sua simplicidade e foco na alocação de recursos a tornam útil para a gestão ambidestra, ajudando as empresas a balancear a inovação e a exploração com base na análise do portfólio de produtos e unidades de negócios. 

Matriz BCG: A Matriz BCG foi desenvolvida por Bruce Henderson para a empresa de consultoria norte-americana Boston Consulting Group em 1970. Ela é eficaz para analisar o portfólio de produtos ou unidades de negócios de uma empresa. Classifica produtos ou unidades em quatro categorias: Estrelas, Interrogações, Vacas Leiteiras e Abacaxis, com base em sua participação no mercado e taxa de crescimento. Isso ajuda as empresas a identificar onde alocar recursos e quais áreas precisam de atenção estratégica. 

A implementação da cultura dual e da gestão ambidestra, apoiada por ferramentas como a Matriz BCG, oferece uma abordagem prática e eficaz para superar o paradoxo entre otimização de desempenho e inovação. Essa combinação prepara as empresas para prosperarem em um ambiente de negócios volátil, dinâmico e desafiador, equilibrando a necessidade de eficiência com a capacidade de explorar novas oportunidades.


Fontes: metodologia proprietária Otimiza Consultoria, vivência nas organizações, fontes na internet e literatura de gestão empresarial diversas.